quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Marca.dor



A dor marca de tal forma que criamos uma carapaça pra nos proteger de tudo e todos. É quase um escudo que impede que qualquer coisa nos atinja, inclusive o amor. 


Existem várias forma de sentir dor. Aquela física, que você cai e se machuca, rala o joelho, quebra um osso... e tem aquela dor que você não precisa cair, se cortar, se quebrar... aquela dor da alma, que consegue ser bem pior que a dor física. 
Tem aquela dor que você sente quando termina um relacionamento e fica mal por dias, a dor de perder alguém que ama, como a morte de alguém da família, um amigo, um ídolo... tem aquela dor que você não sabe bem porque ela existe, mas ela tá alí, mesmo você estando ao lado de quem ama... é aquela dor/sofrimento que tá atrelada ao amor intenso, exagerado, muito doado. Me pergunto sempre por que quando amamos muito alguém, sofremos por esta pessoa. Sofremos por criar expectativas, por achar que fizemos algo errado, por achar que magoamos a pessoa... aí vem todos os grilos na cabeça e toda aquela história que vocês já estão cansados de escutar, que o amor e o sofrimento andam de mãos dadas e uma hora ou outra te machucarão. Aí é onde entra a dor. Porque dói mesmo sofrer por amor. Mas se o amor existe pra nos dar uma sensação boa, por que sofremos? É contraditório um sentimento tão lindo nos causar felicidade e dor ao mesmo tempo. Algumas pessoas aprendem a lidar com a dor que o amor causa e passam a não sentir mais, de forma que conseguem conviver com as duas sensações. Outras sofrem tanto que acabam desiludidas e fechadas numa couraça tão resistente que não conseguem amar ninguém nem muito menos se deixar amar.


Essa frase acima faz parte da letra da música 'O poeta está vivo' do Frejat e sempre que a escuto, lembro o quão o ser humano, na sua fragilidade, é semelhante uns aos outros. A gente fica mais sensível, mais poeta, com a cabeça mais aguçada e mais criativa pra criar. Eu digo por experiência própria. Nas épocas em que estou mais retraída, triste, voltada pra dentro de si, é a época em que mais escrevo, crio, penso, consigo textos legais pra cá. Tenho muita coisa guardada em rascunhos por terminar, mas sem inspiração pra isso... nessas horas em que estou 'de fossa', gosto de reler o que escrevi, reajustar algumas coisas, concluir... sei lá porque isso acontece... mas experimentem alguma vez escrever nesses momentos... parece que a mente flui mais fácil. Artista tem muito disso... gosta de sentir a dor na alma pra criar/interpretar/cantar/escrever. Já ouvi muitos falarem que causaram brigas, terminaram relacionamentos pra sentirem a dor real na carne/alma e conseguirem a inspiração necessária. 


Tem gente que acha que porque não tem sangue espirrando, não há dor. Dor não aparece só quando há sangue, a dor pode ser na alma, no coração... é a pior dor, aquela que não te deixa ver o ponto de partida dela, o foco, o motivo. Aquela que você não pode sanar com um remédio, um analgésico. Tem gente que acha que é frescura sentir esse tipo de dor... não é! A dor do outro nunca dói em nós, e é por isso que não devemos nem podemos julgar o que o outro sente. Quando você achar que é drama, pare um pouco e pense nas suas dores não compreendidas. Pense o quanto elas doeram em você e o quanto os outros a ignoraram simplesmente por não doerem neles. 



E não adianta as pessoas dizerem que temos que 'deixar a dor de lado' e seguir em frente... tem dores que marcam tanto que precisam ser sentidas, a ferida precisa ser bem curtida pra que depois de um tempo a dor já não seja mais sentida, ou que nos acostumemos com ela. Há treinamentos de soldados que você aprende a lidar e a controlar a dor de forma que, mesmo sentido, aquela dor não te impede de fazer nada. Ela tá alí, mas já não te atrapalha mais em nada. Às vezes ela precisa ser realmente sentida pra que não faça mais sentido e possa te deixar continuar tua vida.
Esses dias eu tava bastante 'sentida' com mais uma daquelas oportunidades que deixei escapar pelas minhas mãos e tava me culpando muito por isso, porque optei por estar com o coração e a consciência limpa ao invés de ter um sonho realizado. Fiquei cerca de uma semana muito mal, muito triste, chorava dia e noite, mesmo sabendo que havia tomado a decisão correta. Você, leitor, deve estar se perguntando: Então por que ficou mal se tomou a decisão que achava ser a correta? Oras! e nem tudo que é certo é bom! nos faz bem! nos é prazeroso... Tem decisões que, apesar de corretas, doem na gente. É a segunda vez que desisto de um sonho, que abro mão do que quero muito pra não desagradar/decepcionar pessoas que gosto/amo. E durante esta semana de 'dor sofrida', muita coisa passou pela minha cabeça, inclusive o questionamento: Será que as mesmas pessoas que evitei decepcionar abrindo mão do meu sonho, fariam o mesmo por mim? Não sei se terei algum dia esta resposta, mas preferi não me martirizar mais ainda com isso. Há certas respostas que é melhor não procurarmos...


Foi por me colocar no lugar das outras pessoas que tomei a decisão que me deixou dias mal. Foi pensando nas pessoas que amo que decidi não realizar aquele sonho, por mais que eu quisesse, por mais que fosse aquilo que meu coração esperou realizar no final do trabalho... eu optei pelo coração em paz.


A maneira que encontrei pra colocar toda essa dor pra fora foi botando o dedo na ferida, e uma das formas de fazer isso foi ouvindo música... aquelas de sentar no meio fio com uma bebida barata e chorar enquanto vira toda a garrafa, na esperança da dor sair junto com a sensação de perda. Sim, porque dor dá uma sensação de perda terrível! Não sei explicar muito bem os motivos. Detesto sentir essas coisas!! rsrsrs 



Mas posso dizer que depois que você aprende a lidar com toda essa dor, o sentimento passa e o que tem de voltar pra você, volta bem melhor e mais bonito do que quando você deixou ir... E aí vem aquela clichê: Deixa tudo livre e solto... deixa ir... o que é pra ser seu volta sem que você precise prender consigo. E se preciso for, sinta a dor! Deixe ela doer até você não sentir mais nada e ela se tornar insignificante pra você. A gente guarda muito as dores e quando percebe, elas voltam mais fortes, como se tivessem criado anticorpos, sei lá! Melhor sentir logo tudo de uma vez, rasgar a alma e expor a ferida que guardar o desnecessário. Lembre-se que na nossa bagagem só merece ir o essencial, nada mais além disso.


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